quinta-feira, 6 de fevereiro de 2014

GIAS - Grupos de Interajuda Social



Desempregados lutam contra a solidão e a depressão nos Grupos de Interajuda Social (GIAS), promovidos pela Cáritas, onde partilham experiências de vida, medos e ideias para tentar superar as dificuldades causadas pelo desemprego, que atinge milhares de portugueses.

“Em Portugal, o desemprego é o maior flagelo, pela sua dimensão numérica mas também pelos novos contornos que apresenta e não pode ser combatido somente com os procedimentos de intervenção tradicionais”, afirmou a psicóloga Isabel Cordovil, que está a dinamizar o projeto a nível nacional.
Isabel Cordovil adiantou à Lusa que, em abril de 2011, a Cáritas Portuguesa entendeu que seria conveniente apoiar as pessoas que estão desempregadas, em risco de empobrecimento e de ficarem isoladas.

Para isso, promoveu a criação dos GIAS, em que podem participar entre oito a 12 pessoas, que reúnem semanalmente ou quinzenalmente durante duas horas com o apoio de monitores.
“O GIAS não é um grupo orientado para a procura ativa de emprego, nem orientado para a ajuda económica direta. É um grupo que apoia o encaminhamento para a resolução de problemas vividos”, explicou.

Nos encontros, as pessoas “partilham experiências de vida, perdas e medos, competências e boas ideias, com o objetivo de tentar superar as dificuldades associadas à situação de desemprego e de reencontrar um caminho de confiança e esperança”.

A experiência piloto decorreu entre março de 2012 e julho de 2013 na junta de freguesia de Santa Isabel, em Lisboa, onde decorreram 59 reuniões participadas por 33 desempregados de várias idades, qualificações e diversas experiências de desemprego.

Quinze destes participantes encontraram novas situações de trabalho e “muitos tornaram-se cidadãos mais ativos e empenhados em voluntariado de proximidade”, disse Isabel Cordovil.
Atualmente há grupos a funcionar em Leira, promovido pela Cáritas Diocesana de Leiria-Fátima, e em Setúbal, dinamizado pela Cáritas local. Na próxima semana, arrancará um novo grupo no Centro Social Paroquial da Quinta do Conde.

Para Nelson Costa, técnico da Caritas Diocesana de Leiria e animador do grupo, estes encontros funcionam como “um antidepressivo para muitas pessoas que estão fechadas em casa”.
No grupo de Leiria estão quatro homens e duas mulheres, com idades entre os 30 e os 54 anos, mas a próxima reunião contará com mais duas pessoas. “É o passa palavra”, comentou Nelson Costa.
O animador contou que os participantes chegam à reunião um pouco desalentados, envergonhados e com algum receio, mas “com o passar dos minutos” começam a conversar, a trocar ideias e a encorajarem-se uns aos outros.

“As pessoas não vêm com o sentido de que o grupo é um frete. Às vezes [devido ao tempo] até temos de cortar a palavra porque as pessoas se entusiasmam”, comentou.
Apesar de ainda só terem decorrido duas sessões e ser “um grupo díspar a nível de experiência profissional e de vivências, é um grupo que se uniu e que sabe, acima de tudo, respeitar muito o espaço e a personalidade de cada um”, frisou Nelson Costa.

Ana Carvalho, do Centro Social Paroquial da Cova da Piedade, que está a lançar o primeiro GIAS no concelho, considerou “fundamental e crucial” este apoio aos desempregados para não caírem numa situação de isolamento.

“É importante que se sintam integradas, porque as pessoas ficam fragilizadas numa situação de desemprego e pensam que estão à margem da sociedade”, adiantou Ana Carvalho. A Cáritas Portuguesa sublinhou que tem “colocado muito do seu empenho” nos GIAS devido ao “desemprego ser hoje o principal motivo de empobrecimento das famílias”, e o isolamento uma das consequências desta situação.

Em dezembro de 2013, Portugal tinha 819 mil desempregados, situando-se a taxa desemprego nos 15,4%, segundo o Eurostat.


HN//GC.
Lusa

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